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ARTISTAS E O ISOLAMENTO SOCIAL

 

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Desde que a secretaria de saúde do estado de SP confirmou o primeiro caso do Covid -19 em terras brasileiras, em meados de fevereiro, após um homem de 61 anos desembarcar em SP vindo da Itália, país onde o número de mortos chegou na casa dos vinte e cinco mil, obrigando os estados a tomarem medidas emergenciais, como a quarentena ou o isolamento social (como você preferir), mesmo a contra-gosto do “presidente da república” (sim, o messias, sim, o capitão, aquele do condomínio famoso), a nossa vida mudou drasticamente, pra pior.

 

Sabe aquela máxima,  “Nada é tão ruim que não possa piorar”? ou, “o buraco pode ser ainda mais fundo do que aparenta? (nem sei se essa expressão realmente existe ou acabei de inventar, não importa) o fato é que a vida do povo brasileiro, principalmente da classe trabalhadora que não veste a camisa amarela da CBF, ou aquele/a que vestiu a falsificada, por não ter condições de comprar a original como a do patrão ou da patroa, sofreu uma queda vertiginosa na sua condição social e econômica.  

 

É importante salientar que o país já não vinha bem das pernas, desde o fatídico golpe de estado em conluio com o supremo com tudo, como diria o “nobre” Romero Jucá do MDB, lembram? Se não, vou refrescar a sua memória:

“ - Conversei ontem com uns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de... sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’.

Em outro trecho, sugere que um acordo nacional, ou pacto, para “delimitar” a Lava Jato com participação do Supremo.

- Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]... É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, sugere Machado.

- Com o Supremo, com tudo, afirma Jucá.

- Com tudo, aí parava tudo, anuncia Machado.”

 

Retomando a linha de pensamento, antes do próprio covid-19, os entreguistas continuavam com o projeto da burguesia de ampliar ainda mais o abismo social. que já era absurdo, implementando reformas que esgarçam  o povo pobre e preto desse país, como a reforma trabalhista, a Emenda constitucional 95

(PEC 55/2016) que limita o teto dos gastos públicos por 20 anos, comprometendo drasticamente a saúde e a educação de um país tão desigual, medidas essa, entre outras, que jogou o país na informalidade 9 dos bicos, sem direitos, em contrapartida de uma burguesia que se beneficiou e enriqueceu ainda mais as custas da miséria alheia como reza a bíblia do neo-liberalismo.

 

VIVER DA ARTE JÁ NÃO É FACIL, NO BRASIL DE BOLSONARO, ENTÃO...

Como se não bastasse todas essas dificuldades no âmbito politico e social, agora nos deparamos com uma pandemia  que  nos obriga a passar por um isolamento social que não está sendo nada fácil, comprometendo uma série de questões, em todos os âmbitos, mas que é preciso.

 

Pra nós, artistas, que estamos acostumados a ocupar as ruas e praças públicas, com nossos saraus, Slam’s e intervenções, ficar distante dos amigos e do público é uma tarefa que as vezes o emocional não dá conta, e que agrava ainda mais por conta da questão econômica.

 

Vivemos em um país onde o investimento na Cultura ( propositalmente é ínfimo) no caso da cidade de SP não passa de 1%. Onde as conquistas por políticas públicas como os fomentos ao teatro, dança, Movimento cultural das periferias, entre outras, vieram através de muita luta por parte da classe artística e dos diversos coletivos envolvidos, e  mesmo quando implementadas, vem a dificuldade pra acessar essas verba pois quase sempre os governos realizam o tal “contingenciamento” , afetando ainda mais uma grana que já é pouca pra tanta demanda.

 

Se a situação sempre foi crítica pra classe trabalhadora, aquela de carteira assinada e com alguns direitos, imagine para os artistas independentes desse país que sempre dependeram única e exclusivamente do seu trabalho, sem garantias e direitos, abandonados pelo estado, nesse momento de isolamento social? Artistas mambembes, das ruas, do circo, do teatro, da dança, da produção audiovisual, técnicos, músicos, sem contar nas casas de shows, os teatros, os bares, restaurantes, que sobrevivem da venda de ingressos, dos cachês, do couvert artístico... imaginou?

 

Imagine um músico que conseguiu fechar 3, 4 ou 5 shows e já estava contando com esse dinheiro pra aliviar o condomínio, a luz, a água, enfim, as contas básicas e teve que se deparar com essa situação? Como ficou o seu aluguel, o mercado, a feira? Com quem contar já que são os governos neo-liberais que ditam o rumo da economia, como é o caso do João Agripino Doria, aqui na cidade de São Paulo, com a sua máxima ESTADO MÍNIMO ( Leia-se, para os meus amigos empresários tudo, para o povo, nada, ainda mais se for artista/esquerdista/petista).

 

Nunca foi tão urgente debatermos um investimento na cultura á altura de um país riquíssimo e plural como o nosso. É importante frisar que em Bogotá/Colômbia, o investimento na cultura que era de 0,6 % há vinte anos atrás, saltou para 5,0 % e a educação de 12 % para 40 %, fazendo com que, entre outras coisas, o índice de violência na região caiu em 95%.

 

É imprescindível que num momento como esse, de total abandono no poder público, debatermos sobre um Estado forte, que possa dar o mínimo de dignidade para o seu povo em momentos trágicos como esse. É DEVER E NÃO UM FAVOR!

 

E por falar em estado, Onde está Regina? Reginaaaaa?


 

 

Netto Duarte

Artista Plástico e produtor cultural.

Atualmente trabalha junto ao mandato do vereador Toninho Vespoli do Psol/SP

São Paulo

 

 

 

Wolf Silveri

Fotógrafo

Viena

 

Maio 2020