OTÓLITOS E MURUNDUS
A sabedoria elementar reconhece que a virtude está no meio, num ponto de equilíbrio entre dois excessos incomunicáveis entre si.
Victor Sales Pinheiro, jornal O Liberal, 01/10/2017
Possivelmente, enlaces inusitados fomentam afetos a se processarem de maneira mais efetiva. Assim cabem trânsitos entre existências matéricas e mundos onde significâncias ganham primazia. As atribuições dadas pelo homem às coisas sugerem reverberações suscintas, sobre as quais se constroem os discursos.
Otólitos são concreções que se formam nos aparelhos vestibulares dos animais vertebrados e cumprem a função de atuar no equilíbrio de seus corpos. Simbolicamente adotado aqui como elementos da estrutura poética, analogicamente desempenham tal missão nessas imagens, ocupando espaços vibratórios de ordens distintas às do cotidiano.
Tidos como pragas, combatidos na manutenção de pastagens pelo agronegócio, esses cupinzeiros são como sociedades que naturalmente se reorganizam, resistindo a constantes combates do homem ou de intempéries diversas. Aqui estariam como cabíveis leituras acerca dos quadros sociais, exaltando suas limitações ao mundo material e, talvez, sem o vislumbre das escalas de poder e ordenamentos que lhes controla.
Através das montagens as concreções se postam a pairar, como que zelando pela harmonia observada nas colônias dos insetos. As ambiguidades entre os elementos são corroboradas pelo confronto entre uma sugestionada aparente dinâmica daquilo que no mundo visível de fato é estático e de uma aparente estaticidade do que é observável como vivo e dinâmico. Sugere-se assim a formação de corpos dicotômicos, como que remontem figuras totêmicas ou outros elos epifânicos.
Cabe assim, o exercício em procurar compreender as amplitudes por suas partes.
Eduardo Mariz
Artista, doutor e mestre em artes pela UERJ e pós-graduado em fotografia pela UCAM-RJ.
Trabalha com fotografia, vídeo, cinema e performance.
Rio de Janeiro
maio 2021