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NASCER

 

 

 

O ovo é o câncer da galinha. A galinha é o passado da canja. A canja é o efeito colateral da gripe. A gripe é o escritório do termômetro. O termômetro é o símbolo fálico do suvaco. O suvaco é uma axila que não tem erudição. A erudição é um cachorro sem mato. O mato é o cabelo da terra. A terra é o apartamento da minhoca. A minhoca é o desejo do peixe. O peixe é o homem da água. A água é uma invenção da sede. A sede é uma fome em forma de líquido. O líquido às vezes é uma forma de liquidação. A liquidação é a literatura do extermínio. O extermínio é o gozo do poder. O poder é o sorriso da mordida. A mordida é o sexo do dente. O dente é o nocaute do vampiro. O vampiro é a porção voadora da masturbação. A masturbação é o consumo do sonho. O sonho é a Marilyn Monroe do sono. O sono é o provisório do eterno.

 

O eterno é a desculpa esfarrapada de deus. Deus é o almoxarifado do medo. O medo é o garfo e a faca da coragem. A coragem é o sexto mandamento do cinema. O cinema é o pânico da pipoca. A pipoca é a borboleta do milho. O milho é uma civilização. A civilização é um parto partido ao meio. O meio nunca é igual a seu irmão. O irmão é a diferença da repetição. A repetição é o aprendizado e sua morte. E a morte é o fim botando um ovo. 

 

 

 

 

Cesar Cardoso

Roteirista, escritor e poeta

 

Rio de Janeiro

Junho 2020