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FASCISTAS ASSINTOMÁTICOS

 

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Muita gente achava que um vírus desses nunca mais voltaria a infestar as pessoas mundo afora. Pensavam que a humanidade tinha adquirido imunidade eterna. Mas olha a onda de volta aí: igual a uma gripe, o fascismo voltou a ser altamente contagiante.

Mas como se deu isso? Infectando-se a partir de animais? Na verdade, por muito tempo andamos na companhia de “fascistas assintomáticos”. Aquele colega de trabalho ou parente que soltava uma piada meio, digamos, fora do tom. A gente ficava chateado, mas não reprimia. “Ele é assim”, relevávamos. Só que esses espirros de ignorância foram se espalhando cada vez mais. A transmissão passou a acontecer até pela internet e olha aí no que deu!

O mais triste é que, como toda virose, o fascismo que acomete a sociedade terá que cumprir todo o seu ciclo antes de arrefecer por completo. Ou existiu, em algum momento da História, uma escalada autoritária que foi interrompida em seu processo de decolagem? Vai vendo: estamos na fase de catalogar as pessoas. Depois vem expropriação, perseguição, prisão arbitrária, tortura, morte. Aí quem apoiava começa a ver que um parente ou amigo foi feito vítima do Estado e começa a mudar de opinião, deixando de apoiar o governo. O vírus vai se enfraquecendo e, por conflito ou negociação, acaba se recolhendo – mas não se extinguindo. E os fascistas voltam a ficar assintomáticos, sentando nas mesas junto da gente com a maior cara de inocentes.

Antes que você me pergunte: não, não tem vacina. Mas, pelo menos, tem tratamento precoce. Não é com cloroquina, e sim com o voto.

Isso, claro, se as eleições não virarem mais uma vítima desse vírus.

 

 

Zé Dassilva

Roteirista, cartunista, jornalista e escritor 

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Rio de Janeiro

 

setembro 2020