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NADA

Nuvens de pré-pensamentos 

Preenchem o céu e anunciam 

O início do dia.  

 

Minha mãe tricota o vento, 

E faz dele belos casacos 

Para as noites de inverno. 

 

Meu pai caça,

Nas florestas sem árvores,

Palavras recém nascidas, 

Aquelas que buscam uma boca

Para serem pronunciadas.

 

Meu irmão é um construtor de vazios.

Me presenteou com o mais belo de todos,

Onde pude guardar a minha rara

Coleção de inexistências. 

 

E eu sou o pervertido. 

Percorro os descaminhos, 

Só para espiar a nudez do Nada.

 

A paisagem da nossa janela é linda 

Porque não é real e nem imaginada, 

Mas  constitui a intimidade do invisível.  

 

Esse despoema foi escrito em memória a Manoel de Barros, no momento que a sua matéria prima,

o Pantanal, arde em chamas.   

 

André Vilaça Guerra

Poeta

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Rio de Janeiro

fevereiro de 2021