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GUERRA NA UCRÂNIA: A MORTE DE UMA ÉPOCA

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Ninguém pode aprovar a guerra, mas só clamar pela paz não resolve as questões de fundo que originaram o conflito, e para encontrar saídas, é necessário compreender isso.


É interessante constatar de que forma os fatos atuais nos fazem evocar episódios do passado. A guerra na Ucrânia, as dilacerantes fotografias das mortes de civis, poderiam ter me provocado lembranças de outros conflitos, alguns dos quais indelevelmente fixados na minha memória, como as coberturas que fiz em Angola, Moçambique, o Líbano… Naturalmente isso tudo veio à memória, mas, curiosamente a primeira lembrança foi do general Líber Seregni!

 

Seregni e o general Víctor Licandro tiveram importante papel na minha formação política. Dando os primeiros passos na militância participei, nos anos 70, de várias palestras dessas duas destacadas figuras da história política do Uruguai. Oriundos das fileiras castrenses, mas decisivos articuladores políticos da formação da Frente Amplia – coligação que, na altura, só iniciava a sua decisiva trajetória – Seregni e Licandro, além de outras múltiplas responsabilidades, tinham organizado cursos de formação de quadros destinados aos jovens engajados na construção dessa aliança política inédita na história do país e, até hoje, excepcional experiência de unidade das forças progressistas. Entre outros temas, os cursos

abordavam o papel das Forças Armadas na América Latina (tema que eles conheciam não somente por bibliografia…).

 

Com eles entendi o significado do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca – TIAR, e da Escola das Américas e outras “escolas” fundadas por Estados Unidos, no marco da Guerra Fria, para treinar as forças armadas latino-americanas na Doutrina de Segurança Nacional. E, sobretudo, foram essas palestras, da mão de Sun Tzu, Von Clausewitz e das lições desses dois brilhantes militares democratas uruguaios, que me introduziram no tema da guerra, que anos depois vivenciaria com os meus próprios olhos, durante as coberturas que fiz como editora (e posteriormente diretora) da revista “Cadernos do Terceiro Mundo”. Nesse contexto, numa das palestras, o general Seregni disse a frase que nunca esqueci: “Numa guerra a gente sabe como entra, mas nunca sabe como sai...”

 

Essa frase é o marco com o qual procuro analisar algumas variáveis que compõem o complexo e dramático cenário atual, com Ucrânia no centro.

 

Nestes dias temos sido “bombardeados” com informação, desinformação, análises, bobagens revestidas de análises, opiniões de especialistas em tudo e em nada… Como é previsível, “numa guerra a verdade é a primeira que morre”… É ampla a falta honestidade para deixar transparente a partir de que valores, visão de mundo, compromissos, a análise é feita.

 

Entre tanta suposta informação ninguém na imprensa comercial publicou uma simples afirmação, que transcrevo do artigo de David Mandel “O Ocidente quis a guerra - Putin promoveu invasão inaceitável, mas havia como evitá-la. (...) Foi um conflito provocado.  

 

 

 

Este artigo foi publicado na revistas Diálogos do Sul. Para acompanhar o restante da análise precisa da professora Beatriz Bissío, siga o link: dialogosdosul.operamundi

 

Beatriz Bissio

Profa. Associada do Departamento de Ciência Política e

do Programa de Pos-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ

 

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Rio de Janeiro

abril 2022