BICHOS SAIAM DOS LIXOS
A escória, o esgoto, a estupidez, a ignorância, a ganância....
O musical Amor Barato, dirigido pelos multitalentosos, Fábio Espírito Santo e Ana Paula Bouzas, espetáculo do qual tive o prazer de ter feito o figurino, dá a exata dimensão de como a arte nos ajuda a compreender e dar sentido a vida. A vida como um fenômeno estético que ela é. A vida cheia de formas: onde nela habita morte, construção e desconstrução.
O musical é um “ Romeu e Julieta” contemporâneo e conta a história de um amor impossível entre um rato e uma barata, nos esgotos.
Estávamos em ano de eleição e a atmosfera no Brasil já era estranha, já tinha no ar um cheiro putrefato, já estávamos vivendo uma deterioração das relações democráticas e vestígios de fascismo.
Diante desse ecossistema adoecido optamos por retratar as famílias do Sr. Rato e do Sr. Barata como nossa elite é: feudal, extravagante, atrasada, ignorante, racista, preconceituosa e amoral.
Hoje, passados dois anos da estreia do Amor Barato, todas aquelas sensações se confirmaram.
Aquele foi um momento de encontro criativo, com pessoas sensíveis e talentosas, e é essa a vida que eu quero de volta.
A arte é a saída do mundo, mas sem negá-lo, não como fuga, mas como afirmação, assim li algum dia.
E sobretudo a arte tem o fim maior que é a de promover e exercitar subjetividade que nos apontem novas éticas, àquela do respeito à individualidade e a singularidade da existência das pessoas.
A arte nos salva de todo o mal, inclusive o mal de viver.
Então, foda-se Bolsonaro!
“Bichos, saiam dos lixos.
Baratas me deixe ver suas patas
Ratos entrem nos sapatos dos cidadão civilizado...
...Bichos escrotos saiam dos esgotos...”
"Bichos Escrotos" - Titãs
Bettine Silveira
Figurinista e
Estudiosa de culturas tradicionais e ancestrais
Rio de Janeiro
setembro 2020