ARTE & FOTO
LIA MENNA BARRETO
MUNDO(S)
O trabalho da artista plástica Lia Menna Barreto acessa um lugar de memória, de afeto e de imaginação.
Quando ela desmonta, desorganiza e destrói elementos que fazem parte do nosso imaginário infantil, os reorganiza e os reconstrói de outra maneira. Lia cria outros “corpos” elaborando transformações que possibilitam visões de mundo a partir de representações que buscam comunicar uma outra ordem.
Alguns argumentam que a imaginação é oposta à percepção. Outros sustentam que percepção é uma forma de imaginação, e que o sonho é o testemunho de outro nível de realidade.
Essas pluralidades e possibilidades de “visões” é o que me instiga no trabalho artístico de Lia. A vida, assim como a arte, requer intencionalidade, observação e improvisação.
Nesse trabalho ela constrói um corpo em metamorfose, onde tais transformações me fazem pensar nas cosmologias (e artes) indígenas como meios de administrar as relações entre humanos e não-humanos.
O entendimento da Natureza e da existência humana, as possibilidades e o processo como um ‘tornar-se’, aproximam da visão ameríndia sobre a existência mais do que a idéia clássica da Natureza, que a percebe como uma realidade objetiva e exterior.
Este poderia ser um dos modos para entendermos o significado mais profundo das razões porque os ameríndios entendem natureza enquanto physis, um todo interconectado de seres não-humanos.
Lia, quando metamorfoseia, hibridiza os corpos e sugere transformar nosso mundo em outros mundos.
Nós somos a natureza. A vida não precisa de diversidade, ela é diversidade.
Evoco Matisse que dizia, “os meios pelos quais a arte se expressa e o sentimento pela vida que os estimula, são inseparáveis”.
Precisamos uma ecologia da mente, uma prática política selvagem, onde possamos caminhar juntos, e que ela seja capaz de sentir, ver e escutar a língua de não-humanos.
Todas as mudanças começam com a filosofia, com a convicção e com o modo de ver o mundo.
Os povos ameríndios ainda estão aqui para nos ensinar.
A vida é gene, ideia, conceito e sonho.
E a arte de Lia Menna Barreto me fez sentir e ter vontade de ser mais índio e mais selvagem.