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FILHO DE ZUMBI

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O Brasil que conhecemos como identidade nasceu no Quilombo dos Palmares. Aprendi a identificar isso escrevendo uma HQ sobre o Quilombo dos Palmares. Na real, descobri as minhas próprias raízes escrevendo essa HQ que é uma parceria com Moacir Martins, ilustrador do livro. Eu descobri que sou preto. Sempre soube que era negão devido aos adjetivos usados dos meus amigos.

 

Infância, adolescência e adulto o NEGAO, O URKO, O MACACO, BEIÇUDO e outros adjetivos perversos que na minha alienação eu não dava bola, isso não quer dizer que eu não me importava. Eu só me botava em silêncio, seguia a minha vida pacata de artista, talvez pelo pouco reconhecimento de artista, eu hipocritamente recebia uma aceitação da carteira do “clube”, mas quando a editora que até então resolveu censurar o meu livro, bom, ali tudo mudou. Eu não aceitei a censura e lutei pelos meus direitos autorais. Eles queriam que o final, com a cabeça decepada de Zumbi, fosse mudado. 

 

Um dia recebi a visita de um oficial da justiça. Eu estava sendo processado por defender os meus direitos, eu havia identificado o modus operandi do racismo estrutural de senhor de engenho no mercado editorial.

 

Eu então não só briguei pelos meus direitos como armei o meu quilombo. Foram 5 anos de disputas que os ditadores racistas mantiveram uma calúnia que eu não tinha entregue o meu trabalho no prazo e por isso queria o adiantamento de volta. Canalhas! Não era por uma questão financeira, tanto que me ofereceram mais grana para eu mostrar o negro na sociedade contemporânea considerando o Quilombo dos Palmares um assunto superado. Essa arrogância do branco se achar superior ao preto, de achar que pode cobrir um passado de perverso genocídio com a sua versão branca. FDP!

 

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Este preto aqui não caiu na lorota, o final do livro continuaria como idealizado.

5 anos depois tiveram que engolir a derrota e Moacir e eu vencermos.

 

O Quilombo dos Palmares sobrevive, é lenda e amaldiçoado por essa elite de ódio que tomou conta com seu gado usando ideais racistas, machistas e nazistas.

A nossa HQ desde 2016 está em uma luta para ser publicada, já teve editoras que disseram que queriam publicar, um catarse que temos apoio incondicional e estamos em dívida por ainda não conseguirmos publicar já que ainda falta um parcela considerável para isso, quem cuida do Catarse é o Moacir. Mas essa luta anárquica de dois guerreiros contemporâneos pretos não está vencida, só prova que essa energia de uma sociedade fascista querer apagar a luta preta, índia, feminista e de todos contra ao perverso neo liberalismo não acaba.

 

Cada preto morto, prezo, estuprado é vítima dessa podre sociedade branca elitista conservadora e hipócrita.

 

Eu mantenho a minha ira, minha criatividade e sobrevivência de buscar a publicação do livro que é o retrato da origem do Brasil.

 

Carlos Ferreira

Roteirista

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Moacir Martins

Desenhista

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nov 2020