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UMA ESTRANHA BALADA

 

Ed 15 p texto Ivanovik- Por Daniela.jpeg

Após um sono profundo, vieram dias ainda mais escuros em cenas de pugilato com a esperança já raquítica…até que os revolucionários parecerem meros negociantes de uma pátria nas mãos de pedófilos poderosos

 

Que nas mesas de negociações para o povo sem o povo, a famosa mesa de compadres, camaradas e clientes produzindo novas hienas para a preparação da eleição de boas vindas ao novo algoz.

 

Que a Verdade não esteve entre nós desde o momento em que cada interesse de gangue produzia sua própria visão subjetiva do mundo entre pós-verdades e o monopólio da mesma.

 

Que alguns ex-soldados cantaram o hino, rendendo-se ao capital em troca de uma namorada jovem, motorizada e uma patente que sobe na medida em que se abaixa, até que finalmente são sodomizados.

 

Que jovens, esfomeadas e advindas de lares sem pai ou mãe, vítimas de uma tia bêbada que as negoceiam com juízes, políticos e mestres do capital desde os 12 anos de idade & um vizinho joga-lhes migalhas em troca de favores sexuais e se gaba das suas proezas de Don Juan & Elas sonharam em ser médicas, o mais próximo que chegaram disso foi através de modelos anatómicos que as pagavam para manusearem instrumentos de prazer.

 

Que jovens pobres em vestes de mercenários seguindo burgueses fantasiados de santos com sangue nas mãos & não puderam ser empregados os peões: fumaram, beberam, roubaram e espancaram mulheres e partilhavam mulheres e faziam filhos ou assumiam filhos ignotos.

 

Quais promessas de campanha poderão entrar nesses ouvidos tão céticos?! Quais estômagos não sucumbiram à retórica do pão? Quem embaralhou as cartas democráticas?! Onde foram parar os ases votantes? Em que mesas ficaram os reis e as damas desaparecidas? Mistério da fé!

 

Qual fome pela cadeira real do estado democrático fez-nos adiar tanto assim o nosso futuro? A legião de prostitutas que criamos e os seus alcoólatras partindo as colunas erguendo um tabuleiro de xadrez onde a população crê ser de damas & vimos sair, era já de noite, parece uma ilha paradisíaca de longe, de perto, os demônios saíram exibindo a pujança imortal de um demiurgo sustentado pelo nosso medo coletivo, e desespero calculado.

Ivanick Lopandza

escritor

@lopandz_art

 

São Tomé e Príncipe

nov.2021