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LUTA NO MAR,

LUTA NA TERRA

 

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Eliana Conde Barroso Leite 

Agrônoma e ativista socioambiental

 

Casa das Pedras, Canto do Prato, Porto Pequeno, Porto Grande, Coroa, Volta, Areia Preta, Malha, Pegador, Baleia, Caminho das Moças, Canto do Ponte. Poéticos, os pontos de pesca nominados pelos pescadores artesanais na Praia de Itaipu traduzem a beleza e a simplicidade de sua cultura centenária, seu modo de vida tradicional, sua etnografia sobrevivente, insistente.

 

As comunidades tradicionais pesqueiras ocupam sempre os melhores espaços, os mais bonitos, as enseadas. Se estes lugares estão preservados ainda é porque nós estamos aqui. Respeitem nossa história de luta”, falam as lideranças da vila de pescadores.

 

Emoldurada por um cenário de extraordinária beleza e de singular valor histórico, ambiental e arqueológico, a comunidade de pescadores artesanais da Praia de Itaipu se espreme, como as demais comunidades.

Os pescadores para além de um cotidiano heróico e árduo, no mar, enfrentam o esgotamento dos estoques pesqueiros pela pesca industrial predatória, exploração de petróleo, poluição e esportes náuticos que espantam os cardumes. Em terra, são atingidos pela cobiça imobiliária e gentrificação, além do desamparo governamental na área da produção e da comercialização.

 

A perseverança, no entanto, está no sangue da comunidade, cujo registro histórico mais remoto data de 1781. Após vinte anos de tentativas, conseguiram obter a decretação de uma Reserva Extrativista Marinha, unidade de conservação cujo desenho era o sonho de Chico Mendes. O território protegido para quem dele sobrevive. Esta luta começou com os seringueiros da floresta amazônica e alcançou os povos extrativistas marinhos e costeiros de todo o país.

 

Canoas gigantes e coloridas, feitas de um só tronco de jequitibá, ainda resistem na paisagem da praia. Nos anos 70 elas tinham nomes de Fortuna, Fulgor, Fartura, Riqueza, Tranchã. Os velhos pescadores relatam grande fartura de tainha, xaréu, corvina.

 

Hoje, os filhos de pescadores buscam manter seu modo de vida histórico e usam todo o conhecimento transmitido pela palavra de seus ancestrais: “Vemos a nuvem rabo de galo no céu e sabemos que tá vindo vento do mar, quando a maré corre muito forte a leste, no inverno, é sinal que o mar vai virar, assim como a areia fofa indica que o mar vai ficar grosso, puxado, e quando a maria farinha se enterra na salsa da restinga, também vem virada de mar”.

 

O desencaixe de pertencer a um modo de vida raiz em pleno centro urbano torna ainda mais difícil a preservação desta sabedoria centenária, mas a querência dos pescadores pelo seu lugar é maior que tudo, e eles seguem.

 

Vida longa à Vila de Pescadores de Itaipu.

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Luiz Bhering

Luiz Bhering formado em Fotografia pela City Polytechnic School of Arts and Designer de Londres.

Atualmente desenvolve projetos variados com destaque para a Série Urbanidades e Série Território de Pesca e Poesia (exposição itinerante), como um memorial fotográfico dos Pescadores de Itaipu - Niterói/RJ, com o apoio do IBRAM e Museu de Arqueologia de Itaipu.

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agosto 2021