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COLORED

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Quando recebi a obra para publicação na revista Ignorância Times, do artista visual e amigo, Osvaldo Carvalho, lembrei imediatamente de uma aula da filósofa Judith Butler sobre dois de seus livros: Vida Precária e Corpos que Importam.

 

Neles ela formula uma questão que é central na sua obra, assim como é central na forma como nos constituímos como sociedade: quais humanos são reconhecidos como o grupo dos humanos, e os que não podem ser humanos.

 

Os não-humanos como os presos de Guantánamo, as populações em campos de refugiados, os negros nas favelas cariocas, os palestinos, os indígenas, enfim, todos os mortos-vivos como diz Achille Mbembe, os que estão em territórios a margem.

 

Butler usa três palavras que se articulam, e é impossível pensar em uma, sem pensar nas outras:

violência, precariedade e luto. O quanto estamos submetidos a situações de violência desmedida.

O quanto é escandaloso um grupo ter seu lar, seu corpo e seu estatuto politico destítuido. É uma existência fantasmática como diz novamente, Mbembe.

 

“Colored”, vem como um soco no estômago, porque Osvaldo Carvalho subverte tudo que mencionei acima: uma criança negra brincando como a figura central na tela, nos mostra como a arte pode fazer a gente repensar e reinventar mundos. É tão lúdico o menino brincando com uma folha, no meio de elementos da cultura pop, como uma lata de sopa Campbell's, uma fatia de bolo, um touro furioso pronto para acertar o alvo, entre outros elementos.

 

Osvaldo transforma o corpo negro no oposto de toda uma lógica colonial de corpos matáveis.

 

Lembrei de uma passagem emblemática do diário do Kafka, onde ele registra na época da segunda guerra mundial o seguinte comentário:

Alemanha invadiu a Rússia.

À tarde, natação.

 

Vivemos uma situação absurda como essa, estamos aceitando tudo com uma falsa normalidade.

 

Mas a arte, felizmente ela, faz com que reinventemos outras possibilidade de existência, de mundos.

 

E é na tela de Osvaldo que quero estar, onde todos e todas possam ser humanos sem distinção e separação. Em pé de igualdade.

 

E que o azul seja a cor mais quente!

 

Osvaldo Carvalho

artista visual 

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Bettine Silveira

editora da Revista Ignorância Times

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Rio de Janeiro

abril 2022